quarta-feira, 19 de maio de 2010

História única, estereótipos e outros enquadramentos.

A palavra é o meio pelo qual, cada um de nós se utiliza para dizer do outro, para constitui-lo, defini-lo, categorizá-lo. Identidades não são, pois, fixas, mas construídas nas, e pelas relações que estabelecemos com o mundo. É a forma com que os outros me olham, me significam e como estabeleço relação com estes processos sociais, que me constituem como sujeito. A construção de identidades está assim relacionada com o lugar de onde vemos, submetida àquele que vê, que ouve, que assiste, que lê. De igual importância neste processo: do que se mostra, se narra, se escreve.

A construção de identidades supõe uma relação de poder daquele que define para aquele que é assim , definido, sendo utilizado, muitas vezes, para impor ao mundo representações, escrever histórias únicas. O outro, diverso, não raras vezes passa a ser entao entendido, como o estranho, o exótico, o inferior.


Estereótipos e preconceitos – legitimadores de relações de sujeição ou de exclusão – surgem a partir da construção de narrativas únicas . O rol de identidades que se cria, para explicar o outro, é imenso, e nessas narrativas, com frequência, a presença da diferença como sinônimo de inferioridade, o lugar do desvio. O outro, diferente, não representa apenas um outro que não sou eu, mas aquele que, diverso, foge ao padrão e sob esta condição, necessita ser normalizado.


Traduções hegêmonicas incorrem em uma visão simplista, pouco complexa, que não dão conta de explicar o outro ou os outros dos quais falamos, pelo fato de que negam a substancialidade dos sujeitos. Igualmente simplista é a compreensão de que todo grupo goza de imunidade, uma vez que, como sujeitos históricos carregamos marcas identitárias que dificultam romper com o instituído e com a ordem dada, podendo, ainda, que estereótipos, pelo reforço do discurso, passem a serem tomados como verdades absolutas.


Nestes enquadramentos que realizamos, mulheres são delicadas e frágeis; gordinhos são sempre simpáticos; homens não choram; surdos são agressivos; negros, sempre pobres; nordestinos, preguiçosos; norte americanos, ricos; italianos, sovinos; os britânicos, reservados e polidos; alemães, trabalhadores e adoradores de cerveja e os orientais...ah como são sábios!

A família, a mídia e os livros didáticos inserem-se aí como os grandes responsáveis pela formação de estereótipos. No entanto uma visão superficial de qualquer que seja a realidade pode incorrer em padronização e à construção de conceitos generalistas, tomando-se o particular como o geral, de forma equivocada.

O vídeo abaixo, indicação do amigo José Roig, é a leitura da escritora nigeriana Chimamanda Adichie sobre histórias únicas que lhe foram contadas e de como isso pode interferir na formação de povos, culturas e sujeitos, dificultando a comunicação intercultural.

Obs.: Selecionar "português" em subtitles

segunda-feira, 17 de maio de 2010

II Curso de Educadores da Cidade do Rio Grande

Folder do evento com a imagem de Chaplin sobre uma engrenagem e com o texto:O Educador do Século XXI: Saúde,tecnologia e motivação

Divulgando o II Curso Nacional de Educadores da cidade do Rio Grande, que terá como tema da Segunda Etapa: Tecnologias Aplicadas à Educação, que acontecerá nos dias 26 e 27 de agosto de 2010, onde estarei trabalhando com o tema:
Tecnologias Educacionais: Para quem Precisa se Incluir e com a Oficina: Recursos tecnológicos como
estratégia de acessibilidade e de aprendizagem
de alunos com deficiência intelectual.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sobre o Jecripe - Jogo de Estímulo à Crianças com Síndrome de Down

tela inicial do Jecripe - personagem com Síndrome de Down em uma janelaEm abril passado foi lançado o Jecripe, tido como o primeiro jogo para crianças com Síndrome de Down com a proposta de trabalhar áreas que necessitam ser estimuladas em crianças com a síndrome: linguagem, percepção, coordenação viso-motora, motricidade...

Minhas impressões sobre o jogo:

  • Jecripe não é um software para crianças com Síndrome de Down. É um software para algumas crianças com Síndrome de Down.
  • As propostas de atividades são direcionadas à uma determinada faixa etária. Crianças em idade pré escolar se beneficiariam dele, ao passo que seria compreensível que à uma criança de oito anos, por exemplo, não despertasse nenhum interesse. Da mesma forma, poderá ser explorado de modo a favorecer o aprendizado e o desenvolvimento de uma criança sem a síndrome. Ou seja, beneficiar qualquer criança, desde que esteja adequado à sua faixa etária e ao seu nível de desenvolvimento.
  • Possui uma interface simples e acessível, com boa qualidade áudio-visual.
  • O direcionamento dado pela personagem que conduz à criança para as atividades é importante, considerando-se que aquelas com pouca familiaridade com as ferramentas computacionais e menor nível de autonomia poderão interagir com o jogo. Entretanto, como um jogo de estímulo, deveria promover maiores desafios, de forma a fazer com que a criança sinta-se motivada a avançar em suas conquistas, agindo com progressiva autonomia.
Algumas considerações sobre softwares e deficiência intelectual:
  • A utilização de softwares prontos (pacotes) podem incorrer em padronização do ensino.
  • Existe uma idéia equivocada de que entre pessoas com deficiência intelectual existe uma universalidade de características comuns à todos. É preciso que antes da deficiência esteja a criança. Com suas especificidades, seus gostos, suas características pessoais, seu ritmo, suas habilidades, suas limitações, suas necessidades...Suas. De cada um e de todos de forma diferenciada.
  • Softwares direcionados a este ou aquele público, com esta ou aquela finalidade - definidas a priori - podem limitar, engessar o professor podendo, igualmente limitar o aluno.
  • Mais importante que a tecnologia é a pedagogia. Aliados à uma intervenção de qualidade do professor, os softwares podem ser importantes instrumentos para a aprendizagem. Uma mesma ferramenta pode ser educativa ou não, servir ou não ,dependendo de todas as variantes que se apresentarem: do contexto, do olhar do professor, do objetivo...

sábado, 8 de maio de 2010

Eu não desejei ser mãe...

Eu não sonhei ser mãe. Sempre achei que mãe era um ente grandioso demais diante de todas as minhas miudezas... Sublime, compreensiva, atenciosa, amável, dedicada, tolerante, bondosa e todos os outros predicados bonitos escritos nos dicionários. Além disso, mãe precisava saber fazer bolinho de chuva, defender a gente do homem do saco e procurar pelo nosso sono que teimava em sumir em dia de trovoada forte. Mãe precisava conhecer muitas histórias e ter paciência de repeti-las quantas vezes a gente desejasse, até decorar. Tinha que conseguir convencer que quando a gente toma banho não há risco nenhum de a gente escorrer pelo ralo, como a água que se esvai. Mãe precisava ter uma força visceral, presença carnal e espiritual para guiar a cria quando de seus enganos juvenis, equilíbrio circense, paciência bovina e sabedoria divina.
Eu não desejei ser mãe...havia uma vaga descrença humana que imputava a mim, o não merecimento do dom.
Um junho qualquer veio para mostrar as meio-falácias das minha teorias. E ele estreiou nesse plano me fazendo compreender que em meio à todas às minhas (reais) pequenezas, o meu ser mãe era o lugar de onde e para onde ele poderia voltar e encontrar o sentimento de amor maior capaz de atenuar qualquer sensação de desamparo.
Entendi que a supremacia de uma mãe não está nos atributos de perfeição que se ligam à ela por analogia. Mas que pra toda imperfeição há um propósito - este sim, supremo de elevação espiritual que nos aproxima de Deus.
Eu não desejei ser mãe, mas desejei conhecer o amor em sua forma mais perfeita.
E sendo, eu aprendi a amar... e a fazer bolinhos de chuva.