quinta-feira, 23 de abril de 2009

A escola forma gente para o futuro ou para passado? (Compilando Ideias)

"Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo"...

Não me recordo de quem é a frase nem onde li. Ela me veio enquanto pensava sobre o quão importantes são os conhecimentos gestados coletivamente. A propósito, acho que conhecimento só se produz coletivamente.

É a linguagem que dá à todos nós, desde a mais tenra idade, a dimensão da nossa existência. Ela nos constitui tanto quanto nosso corpo físico. A experiência de estar em rede nos proporciona diariamente a oportunidade de estender os limites desse nosso mundo, que vai alargando, encompridando, conforme vivenciamos processos de interação e construção participativa do conhecimento. Tenho lido muita coisa boa nestes últimos dias, conhecimento que parte de nossos questionamentos, indagações, reflexões, contradições, enfim... de tudo aquilo que povoa nossas cabeças, nos inquieta e que nos constitui como ser humano e educador.

A questão levantada pelo Robson Freire que dá o título à esse e ao post anterior, provocou e a mim continua provocando algumas sinapses. (voltando a falar em linguagem, comunicação... Neurônios também trocam ideias e são super conectados) :-)

Bom, compilei aqui algumas ideias que meus colegas andaram tendo e que acompanhei pelo reader. Alguns falam por mim, alguns deixaram meus neurônios em polvorosa.

Seguem:

Crises enfrentadas de forma criativa, significam pontos de reorganização e melhoria. É preciso que os alunos reconheçam que a escola é um lugar essencial para a realização humana em toda sua complexidade.
Um trabalho didático que leve em conta a cultura em que a escola se insere, o tipo de vida dos alunos, e a visão de mundo que eles possuem neste contexto.
Trata-se de uma mudança de postura. De dentro para fora. Não basta repetir discursos. Pode-se começar amanhã, ao entrar em sala de aula e olhar no olho do aluno. Pode-se escolher apenas um. Talvez aquele que dê "mais trabalho". (Jenny)

  • Ruptura e Reinvenção da Escola - Política da Terra Arrasada. Repensar completamente a escola em outros termos. É o caminho, conceitualmente mais simples e ao mesmo tempo de implementação prática mais difícil! Requer dirigentes com aquilo roxo, vontade política e esforços sincronizados de professores, dirigentes e políticos, e o que é pior, é uma solução de médio e longo prazo. Pra uma ou duas gerações!
  • Reforma e Contra-Hegemonias Locais das Práticas Escolares - Quase sempre este é o caminho possível para quem não tem poder de decisão de políticas educacionais (eu e você que estamos no dia-a-dia da Escola). É complicado porque vivemos dentro de superestruturas rígidas e todo e qualquer movimento contra-hegemônico é doloroso e trabalhoso. Com muitos refluxos! (Sérgio Lima)

  • Será que devemos concluir que a Escola é, por essência, conservadora e resistente à mudança?
  • Devemos concluir que a tecnologia por si só não interfere nos hábitos humanos?
  • Devemos mudar as formas metodológicas de abordagem do problema?
  • Será que o problema é pertinente?
  • Será que há muito discurso e pouca ação?
  • Trabalhar por projetos seria uma solução viável?
  • Há um comodismo generalizado por parte dos docentes?
  • Não seria melhor derrubar tudo e começar do zero? (Robson Freire)

Para muitos professores a solução está na urgente mudança no/do currículo escolar. Eu também cheguei a defender uma mudança de currículo como forma de reinventar o ensinar-aprender mas, numa sociedade globalizada, num mundo internacionalizado como o que vivemos, que currículo, por melhor que seja, vai atender suas necessidades? O currículo continua composto de fragmentos e fundamentado no classicismo cartesiano. Traz blocos de conteúdos considerados necessários à formação do cidadão, delimita as estratégias de ensino-aprendizagem, estipula o método e critérios de avaliação, e mesmo que o discurso diga que o currículo é flexível, o que a escola quer é uma agulha apontando sempre numa mesma direção, pois ninguém consegue seguir uma bússola desorientada. Em verdade, poucos sabem o que significa um currículo flexível.... Porque se for flexível demais o professor corre o risco de não saber o que fazer, o pessoal técnico pedagógico não saber que rumo tomar, o aluno não se sentir orientado etc. (Franz)

O uso adequado das tecnologias e condições de interagir com as máquinas é, sem dúvida, essencial. Mas o nosso presente exige mais do que isso. O presente exige que essas cabeças pensantes, que pegam uma informação e a transformam em conhecimento, tenham uma nova postura diante da vida. A escola precisa, com urgência, introduzir uma cultura de sustentabilidade e da paz. O presente já exige que as pessoas sejam mais cooperativas e menos competitivas. O presente exige que a escola eduque para a vida sustentável, como explica Moacir Gadotti:

Vida sustentável é o estilo de vida que harmoniza a ecologia humana e ambiental mediante tecnologias apropriadas, economias de cooperação e empenho individual. É um estilo de vida intencional, que se caracteriza pela responsabilidade pessoal, pelo serviço aos demais e por uma vida espiritual significativa. Um estilo de vida sustentável relaciona-se com a ética na gestão do meio ambiente e na economia, com vistas a satisfazer as necessidades de hoje em equilíbrio com as necessidades das futuras gerações. (Miriam Salles)



É isso, queridos leitores. Se eu formo um sujeito pensante, independente do conteúdo específico adquirido na escola, ele, quando adulto, terá condições de buscar os conhecimentos que lhe são importantes, de forma crítica e reflexiva.
Acredito que, independente dos assuntos discriminados em uma grade curricular, os professores hoje têm de se apropriar dos seus conteúdos específicos, interagir com as informações e conhecimentos que rondam a nossa sociedade e levar para a sala de aula todo tipo de questão que promova a reflexão sobre o mundo em que vivemos. (Tati)

terça-feira, 21 de abril de 2009

A escola forma gente para o futuro ou para passado?

Idealizada pelo Robson Freire, editor do blog Caldeirão de idéias esta blogagem coletiva propõe refletir sobre a questão "A escola forma gente pro futuro ou pro passado?

Penso que uma pergunta é essencial para responder à essa questão: Pra que serve o conhecimento produzido pela escola?

Várias poderiam ser as respostas, mas penso que duas basicamente, possam demonstrar a dicotomia existente entre educar para o passado ou educar para o futuro.

O conhecimento produzido pela escola é um pacote de informações que o sujeito precisa para passar de ano, no vestibular, conseguir uma vaga em um concurso público e preparar-se pra concorrência brutal presente nas sociedades modernas.

Se esta é a era da informação talvez esse professor estivesse à beira de perder seu espaço. Ou seja, ele foi muito útil quando detinha o controle de boa parte das informações. Hoje esse controle não mais faz sentido, uma vez que está em todo lugar. Se antes já não não fazia, ainda menos, agora.

Ou...

O conhecimento produzido pela escola capacita o indivíduo para viver em sociedade - seja no campo ou na metrópole - respeitar as diferenças, dominar saberes teóricos, técnicos, humanos, ser crítico, criativo, autônomo, flexível, tolerante e utilizar-se desse conhecimento visando seu aprimoramento, o progresso e o bem estar das pessoas.

Educar nesse sentido, significa desenvolver no indivíduo competências que não sejam necessariamente competências vinculadas à perspectiva de mercado que domina hoje toda a sociedade. Mas que seja capaz de produzir um esforço coordenado entre competências, informações e novos saberes e onde o trabalho coletivo, solidário e ético possa mudar os rumos do planeta. Nessa mesma linha, a escola deve valorizar o conhecimento cotidiano, pois este conhecimento provoca rupturas na escola. Não devem ser conhecimentos marginais e turísticos, mas centrais dentro do currículo.

Mudanças que não são simples e que dispendem esforço concentrado de vários segmentos da sociedade, por isso tão difíceis devido à burocratização do ensino. Começar. Ser o pássaro que leva gotas de água no bico para apagar o incêndio talvez seja, ainda, a opção mais consciente.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Escolas e leitos de Procusto

A inclusão de alunos com deficiência às classes regulares, com poucas exceções é ainda uma experiência bastante difícil. No entanto, essa dificuldade não reside apenas na deficiência, mas também e principalmente no fato de a escola se configurar como uma estrutura altamente rígida. A escola não foi projetada para a diferença. A dificuldade maior nao está, portanto, no aluno e sim no projeto de educação que desenhou uma escola para os iguais. Na base desta rigidez, está a ideia errada de que todos partem das mesmas condições e que todos têm a oportunidade de chegar ao mesmo ponto se seguirem pelo mesmo caminho.

Na mitologia grega há um mito conhecido como Leito de Procusto, que relata o seguinte:

Procusto era um salteador de estradas. Na altura do caminho em que ele se instalava, julgava quem poderia fazer a travessia. Para realizar o julgamento, Procusto dispunha de um leito, no qual ordenava que ali se deitasse todo aquele que desejasse cruzar a estrada. Se porventura, o indivíduo não coubesse na medida exata da cama, sem titubear, ele esticava o pretendente ou cortava-lhe as pernas para que tivesse, então, o tamanho ideal. Triste era a sorte daquele que não coubesse no leito de Procusto. A mutilação ou o suplício, era o seu castigo. Não haveria perdão, nem desculpas. A lei posta que estava, não dava chances a ninguém.

Vivenciar a diferença não é uma experiência aceitável para nossa cultura. Assim como Procusto possuía seu leito implacável, desta forma possuímos também, um senso de julgamento que, não raras vezes, mutila, senão fisicamente, mas psicologicamente, aquele que se atreve a fugir dos padrões estabelecidos


É provável que o insucesso de muitos alunos, resulte do fato de a escola lhes oferecer uma cama única e lhes cortar o corpo e a alma à maneira de Procusto. E isto não deve recair apenas sobre a figura do professor, pois é resultado da força de relações diversas que ali se estabelecem.


Possibilitar à todos, meios de acesso e permanência com qualidade às instituições de ensino é o grande desafio que se configura, e isso requer da escola abandonar verdades cristalizadas e abrir-se à novos paradigmas educacionais, em mudar, rever conceitos, em desaprender, antes mesmo de ensinar... Pra que a escola não tenha o mesmo triste fim de Procusto.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

QUANDO O DOUTORADO É DISPENSÁVEL

Hoje o tempo não me permite mais que isto: Um post do Marcos Meier de quem sou fã, [só não pedi autógrafo ainda porque não faço exatamente o perfil tiete] :-) e infelizmente seu livro que deveria vir autografado, acabou não vindo. Super recomendado, o livro Mediação da Aprendizagem escrito em parceria com a Sandra Garcia.

O post:

**QUANDO SE TEM DOUTORADO

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, (Linneu, 1758) isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e restas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera.(Linneu, 1758) No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

**QUANDO SE TEM MESTRADO

A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando- se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo.. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em
conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

**QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando- se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

**QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

**QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL

Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

**QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO

Rapadura é doce, mas não é mole, não!*

[Quando o conhecimento afasta as pessoas, prefiro ficar na rapadura]

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Escola Mata a Criatividade?

A professora Suzana Gutierrez postou no seu blog dois vídeos de Ken Robinson, com o tema: A Escola Mata a Criatividade?





A primeira idéia que me vem à cabeça é que sim. Apesar de apregoar o contrário e de ter este ítem tão belamente exposto em seus objetivos educacionais, a escola está muito mais para estimular a reprodução do que a criação.

Que o ser humano é dotado de uma capacidade criativa e inventiva fantástica, isso é inegável. Capacidade esta que com o passar do tempo acaba sucumbindo diante do pouco estímulo ou do treinamento que condiciona mentes e inibe o poder criador.

O que denominamos nas crianças de mania de inventar moda nada mais é do que um arsenal de idéias criativas colocadas em prática diariamente.

Mas essa criança precisa ir pra escola. Lá existem regras, um planejamento a ser seguido e conteúdos a serem trabalhados. Ah! E não é permitido inventar muita moda! Lá, antes de serem crianças, estes serzinhos são alunos (sem luz) portanto precisam aprender e apreender muitas coisas que ainda não sabem. Precisam entender conceitos, colar bolinhas de papel, pintar máscaras de coelhinho da páscoa e obedecer as regras. Em algumas destas escolas, elas não aprendem quando ficam curiosas, porque as curiosidades são divididas em períodos e não importa se quando a professora for ensinar elas não estejam mais interessadas ou já tenham aprendido aquilo sozinhas.

Quanto mais crescem mais elas param de inventar moda. Não porque elas não gostem. Elas ainda gostam muito, mas deixam de lado porque entendem que precisam aprender as coisas importantes que se aprende nas escolas. A aula de artes e educação física são as que elas mais gostam porque nessas aulas elas ainda podem inventar moda.

Entendem também que os professores que ensinam as coisas mais importantes são rigorosos. Mas são muito inteligentes, mais até do que os professores de educação física e artes, então elas se dão conta que não dá para ser alguém na vida fazendo arte ou inventando moda, que para conseguirem isso, precisam estudar muito e aprender muitas curiosidades. Embora elas já não tenham muitas, o professor tem e vai ensiná-las e quando perguntar, devem repetir exatamente da forma que o professor (iluminado) falou. Elas aprendem muito rápido que não é bom pensar diferente do professor, e que basta pensar igual para tirar uma boa nota na prova. Então elas desaprendem a ter idéias.

Alguns alunos não aprendem as coisas importantes, mas eles são muito bons em fazer arte. Aí eles ficam fazendo arte na mesma série, porque quem gosta de inventar moda e não aprende as coisas importantes não pode passar de ano. As vezes, os alunos que demoram a aprender as coisas importantes vão para outra escola onde lá se faz muita arte e as coisas importantes são ensinadas de um jeito diferente.

As crianças adoram estas escolas porque lá elas se sentem tão importantes quanto os colegas que aprendem coisas importantes muito rapidamente nas outras escolas, lá elas aprendem que todas as coisas são importantes e elas não sentem-se diferentes, porque lá, todos são diferentes.

Algumas das escolas que ensinam coisas importantes estão aprendendo a trabalhar com os alunos que gostam de inventar moda e com aqueles que precisam aprender coisas importantes de outras formas.

E nessas escolas está acontecendo uma coisa muito interessante. As crianças que aprendem coisas importantes muito rapidamente estão ajudando as outras a aprenderem também, estas, por sua vez estão ensinando uma coisa tão importante quanto as coisas importantes que elas já sabiam, estão mostrando que as pessoas não são todas iguais como elas pensavam. E que coisas importantes não são só as coisas que enchem suas cabeças.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Porta Curtas Petrobras

Dica rápida:

Estive visitando o Porta Curtas Petrobras. O sítio traz um projeto exclusivo para educadores, o Curtas na Escola
. A idéia é incentivar o uso de curta metragens brasileiros como material de apoio em sala de aula.

Pedagogos especializados dão sugestões sobre como utilizar os filmes para disciplinas específicas, que temas transversais abordar, para que idades e níveis de ensino os curtas são indicados e muito mais.

O Planeta Educação traz também algumas indicações e downloads de curtas que o professor pode utilizar-se em sala de aula.

Vale conferir.