terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Softwares e deficiência intelectual

Luciano, paralisado cerebral, utilizando o computador (Esse é o Lu - que tem uma alma linda, talento, inteligência e paralisia cerebral.)

Vez ou outra recebo pedidos de indicação de softwares específicos para serem utilizados com pessoas com deficiência intelectual.

Minha experiência no trabalho com estas pessoas me fez entender porque isso não existe.

Quando falamos em deficiência, muitas vezes nos apoiamos em reducionismos ou generalizações, sendo comum a idéia equivocada de que entre pessoas com deficiência intelectual existe uma universalidade de características comuns à todos, como se todo autista ou síndrome de Down, por exemplo, fosse exatamente igual à todos em condição semelhante, negando-se a substancialidade destes sujeitos.

Não temos todos especificidades? Não somos todos diferentes uns dos outros?
Desenvolver um software para pessoas com Síndrome de Down, por exemplo, seria o mesmo que um médico indicar exatamente o mesmo tratamento à todos os seus pacientes diabéticos.

O trabalho com as tecnologias em sala de sala aula me fez ver que criar um software específico para uma determinada deficiência (não me refiro aqui aos softwares de acessibilidade) além de não ser possível não é necessário.

Pessoas com ou sem deficiência intelectual utilizam-se exatamente das mesmas funções cognitivas para aprender. O que diferencia é que por algum motivo, alguma ou algumas dessas funções psicológicas superiores na pessoa com deficiência tem um funcionamento diferenciado, levando-o à uma aprendizagem mais lenta ou à uma limitação específica e consequentemente à necessidade de estímulos, recursos ou metodologias igualmente diferenciadas.

E aí a rede é um espaço fértil em possibilidades. Atividades que desenvolvam o raciocínio, a capacidade de resolução de problemas, memória, percepção, intuição, lógica, atenção, espacialidade e temporalidade, capacidade de abstração e generalização, enfim...

Aliados à uma intervenção de qualidade do professor, os softwares podem ser importantes instrumentos para a aprendizagem. Importante destacar que nenhum software é educativo por si só. Uma mesma ferramenta pode ser educativa ou não, dependendo de todas as variantes que se apresentarem: do contexto, do olhar do professor, do objetivo..

O desafio que se mostra, portanto, não é criar ferramentas específicas de aprendizagem para pessoas com deficiência intelectual, que possam reafirmar a exclusão, é sim, buscar formas de aprender e aprender viver na diversidade.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

REM - Projeto Literário

imagem de um olho com um relógio ao centro, representando um rápido movimento de olhar
R.E.M. - Rapid Eye Movement ou Rápido Movimento do Olhar, é o projeto literário idealizado pelo amigo, escritor e educador José Antonio Klaes Roig de quem recebi o convite para uma parceria. José Antonio mantém também outros blogs dentre eles o Letra Viva e o Control Verso. O projeto tem por objetivo a escrita de breves poemas e minicontos, além de pensamentos passageiros sobre coisas duradouras da vida real e virtual. Neste espaço nos revazamos na escrita e optamos por um ilustrar o texto do outro.
Esse trabalho me fez refletir sobre algumas práticas concebidas tradicionalmente pela escola como sendo formas mais eficientes de leitura e interpretação - a leitura de códigos e palavras em detrimento da leitura dos símbolos e imagens tão presentes no nosso cotidiano. A leitura não pode estar presa à compreensão de palavras e ao processo de alfabetização. Já nos alertava Paulo Freire que a leitura é bem mais que decodificar palavras: é ler o mundo.
Os estudos comprovam que as imagens possuem a vantagem de serem melhor memorizadas e que seu uso tem dado grande avanço no processo de aprendizagem infantil.
Se considerarmos o processo de aprendizagem de alunos com deficiência, a utilização de imagens como recursos auxiliares da escrita é fundamental. A dificuldade em interpretar e escrever de forma linear pode ser diminuída em função da utilização de imagens como apoio à função da memória.
O ato de ilustrar um texto que não de própria autoria, pressupõe um exercício de alteridade literária, considerando a necessidade de colocar-se no lugar do outro que escreve e de reconhecimento próprio, através do outro. Entendendo melhor a composição e temática das imagens, podemos chegar ao nível de entender o processo de construção de sentidos expressados em imagens, no qual jogam a intencionalidade do autor e interpretação inicial do leitor.

Vivencinado isso, destaco a importância de o professor utilizar-se de formas diversificadas e criativas de produção e interpretação de textos, explorar outras formas de leitura que não somente a dos códigos da escrita, estimulando a criatividade e o prazer em aprender.