terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Quando o diferente é o deficiente...

O professor Daniel do Carbono 14, escreveu um post que me sugeriu este que ora escrevo. Lá ele falava sobre carros, aquecimento global, sustentabilidade...
Mas essa minha análise nada tem a ver com isso.
A frase inspiradora desse texto dizia: O que importa são os negócios! O que importa é o capital! O capital que tudo domina e que tudo danifica.
E mesmo que os defensores mais ferrenhos do capitalismo transfiram aos (des) governos a responsabilidade ou a culpa pelos mais graves problemas sociais brasileiros reforço a constatação do professor.

Mas a minha fala não é sobre coisas, é sobre gente...gente deficiente.
"Coitadinhos"...
"Sinto muito pena deles"
"De que doença mesmo ele sofre?"
"O mundo é injusto"...
Expressões comuns, corriqueiras de quem se vê diante de um deficiente ou falando sobre.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) aproximadamente 80% das pessoas que não enxergam, não escutam, não andam, têm seu intelectual ou desenvolvimento motor comprometido vivem em países em desenvolvimento. Provavelmente 98% delas estão totalmente negligenciadas, conclui a OMS. Um terço é de crianças.

Surpresa? Emoção? Pena ? Revolta?
Sensações bastante comuns, mas sem nenhum efeito transformador.
Mas afinal, quem de nós ousaria não se comover diante da cena de um deficiente?
Deficiência inspira comoção, principalmente quando o deficiente é uma criança. Pena não inspirar ações, investimentos.

Por quê?
Porque o deficiente não é considerado produtivo.
Em uma sociedade guiada pelo capital, investimento e lucro são conceitos que não se separam. Investe-se onde se tem retorno. É uma lógica bastante razoável e necessária. Quem não se submete à ela não sobrevive. Mas uma lógica que acaba por excluir boa parte da população entre eles um número significativo de pessoas com deficiência.

Falta de qualificação? De acesso ao conhecimento? Limitações?
Sim. Constatações reais.
Mas incluir não significa excluir a singularidade. É antes a crença nas possibilidades, respeito à diferença.

Não por força da lei nem com o intuito de ganhar o céu. Incluir não é favor favor, nem caridade.
É antes, dar oportunidade. Muitos deficientes têm potencial a ser explorado, são capazes de produzir, de contribuir, de gerar renda, capital social.

O saldo de tudo isso?
Uma sociedade mais justa e igualitária.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que falta na verdade é um melhor preparo em como lidar com este tipo de aluno, que não é menos capaz. Muitas vezes ele é mal orientado por professores e pessoas preconceituosas, que acreditam veemente que por terem algum tipo de defiência, são menos capazes.
Parabéns pelo blog e boa discussão.

Daniel Giandoso disse...

Oi Elis!
Uma vez, em uma escola do interior, trabalhei com uma classe a questão da participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Ao analisar a legislação, quis que meus alunos percebessem que a cota de empregos destinada às pessoas com deficiência nas empresas começou a ser seguida não por uma questão de conscientização, mas pelo elevado valor da multa àqueles que desobedecessem a lei. Depois, escrevemos cartas para algumas empresas da cidade pedindo informações, se seguem a lei, como a empresa lida com o fato, qual a relação dos deficientes com os outros funcionários, como eles são valorizados, coisas assim. Nenhuma respondeu.
Então, vivemos num mundo em que as relações inter-pessoais estão desumanizadas. Somos medidos pelo que produzimos e não pelo que somos...
um abraço.

Elis Zampieri disse...

Obrigado Clarissa e professor Daniel pelos comentários.

Clarissa...Falta muita coisa na verdade, a minha reflexão é apenas uma constatação dos inúmeros problemas enfrentados por quem tem algum tipo de limitação: conhecimento, sensibilidade, desprendimento, novos olhares, humanização como disse o professor Daniel, "desumbilicalidade" (essa eu inventei - capacidade de perceber que além do seu umbigo existem pessoas, histórias, necessidades...)crença nas possibilidades, respeito às diferenças... enfim, muita coisa falta ainda para que o deficiente conquiste seu espaço e sua dignidade.

Professor Daniel, pior que isso que você falou é ainda a constatação de que muitas empresas preferem o pagamento da multa à empregar um deficiente, e quando o fazem por força da lei, dando preferência às deficiências físicas apenas. O caminho é longo e a luta incansável. Mas continuamos sonhando com o dia em que todas as diferenças sejam vistas apenas como identificações subjetivas que tornam cada ser humano único e especial.